domingo, 12 de junho de 2011

quase nada

Vou ao encontro do nada,
perambulo,
e me destruo.
Vou buscando o prazer,
me enojo,
e desanimo.
Vou procurando ter tudo,
me corrompo,
e me violento.
Vou andando sem rumo,
me perco,
e me altero.
Vou errando no mundo,
abuso,
e me desespero.

angústia

um grito mudo
calado sofrido
irado:

paro.

um berro contido
rouco reprimido
oprimido:

travo.

um uivo agudo
aflito atormentado
angustiado:

calo.

domingo, 5 de junho de 2011

negraria

negro pretume de
preto negrume
negra negrura de
preta pretura
preto negror de
negro pretor
negro negrume de
preto pretume
preto pretor de
negro negror
negra pretura de
preta negrura

life

vou
teço caminhos
piso em espinhos
tropeço, caio
e me ergo.

vou
trago misérias
absorvo penúrias
engulo, rumino
e vomito.

vou
verto rancores
sorvo dores
cedo, hesito
e evito.

vou
estanco mágoas
dissipo lágrimas
canso, desisto
e grito:

that’s life!

ressonância

estamos sempre subterrâneos,
retidos nos porões,
jogados no esquecimento.
na memória da amnésia
vivemos
soterrados,
afundados,
num terreno movediço,
submetidos, subjugados...
com marcas profundas.
por mais que se faça alarde
por mais que.
gritamos sem eco,
num vazio vasto,
num rumor passivo,
numa covardia de bravos.
sem ressonância para.
sem coragem para.
sem ter forças para.
despojados e à deriva.
como algo no meio do nada.
como nada
no meio de.

sábado, 4 de junho de 2011

algo

Tenho algo escondido dentro de mim
Tenho algo entranhado dentro de mim
Tenho algo destroçado dentro de mim
Tenho algo malsão dentro de mim

Tenho algo vazio dentro de mim
Tenho algo nefasto dentro de mim
Tenho algo espúrio dentro de mim
Tenho algo indócil dentro de mim

Tenho algo de ferida dentro de mim
Tenho algo de náusea dentro de mim
Tenho algo de fel dentro de mim
Tenho algo de asco dentro de mim

Tenho algo de amargurado dentro de mim

eu

eu
senhor de mim mesmo
numa insegurança incômoda
de degredo.

eu
senhor de mim mesmo
numa sensação agoniada
de desprezo.

eu
senhor de mim mesmo
num silêncio traumático
de desterro.

eu
senhor de mim mesmo
numa amargura convulsionada
de desacerto.

eu
senhor de mim mesmo
num desassombro atormentado
de desapego.

eu
senhor de mim mesmo
numa recusa intolerável
de desapreço.

que me importa

que me importa que te ferres
que me importa que te danes
que me importa que te percas
que me importa que te cales
que me importa que te estrepes
que me importa que te firas
que me importa que te iludas
que me importa que te acabes
que me importa.

vida noir

negras figuras
um murro na boca da fome.
negras rasuras
um soco na boca do vício.
negras ranhuras
uma porrada na cara do atraso.
negras fissuras
um pontapé na cara da miséria.
negras fraturas
uma pancada no meio da falta.
negras rupturas
um chute no meio do nada.